NEBULOSA | "Quando te sentires derrotada, lembra-te que subiste todo o Bom Jesus de Braga!"

Há um par de anos, numa viagem ao Norte de Portugal, decidi que, por cada local visitado, escreveria um postal. O destinatário? Eu própria. Lembro-me de ter pensado que não queria esquecer aquele momento, sobretudo porque não temos muitas oportunidades para viajar em família. Por isso, armada com selos e um par de canetas, foi uma questão de tempo até pararmos no caminho. Monte Real foi a primeira paragem, mas apenas ficámos tempo suficiente para almoçar ante de nos fazermos à estrada.

Braga, Vila Verde, Gerês, Carvalheira, São Bento da Porta Aberta, Amares, Aveiro e Batalha. Cidades, vilas e aldeias tão encantadores que, à primeira vista, pensei que me tivessem enfeitiçado. A magia existe. E o Norte do nosso país está cheio dela. Como não me deixar ir pelo som das águas de rios e nascentes? Como não ceder à paisagem que me rodeava? Como não me deixar contagiar pela alegria que pairava no ar? À noite, enquanto todos dormiam, dava por mim no quintal a olhar o céu e a ouvir os grilos e as cigarras. O tempo corria de uma maneira diferente.

O primeiro postal veio de Braga, onde estivemos um par de horas. Nunca tinha visto nada como o Bom Jesus do Monte e aquelas escadarias apavoravam-me! Pensei que não ía chegar ao topo. Pensei que a meio caminho ía desistir e voltar para trás. Mas depois chego ao cimo e olho em volta. A luz do pôr-do-sol inundava aquele lugar e o relógio do santuário dava horas. Sentia-me um tanto ofegante, não só porque não estava habituada a subir tantos lances de escadas, mas pela vista e pelas sensações que tomaram conta de mim naquele momento. Todos os dias, ou quase todos os dias, são uma batalha comigo própria. Por vezes, a opinião que tenho sobre mim mesma não reflecte a opinião dos outros, o que me deixa confusa. Sobretudo porque a minha tendência é focar-me nos pontos negativos. Para mim, sou preguiçosa; para outros, sou uma pessoa trabalhadora. Para mim, eu não tenho sonhos; para outros, tenho todos os sonhos do mundo dentro de mim. Para mim, sou mole comigo mesma; para outros, sou demasiado rígida. Mas durante aqueles poucos segundos, e noutros tantos momentos da viagem, senti-me bem. Lembro-me de ter pensado 'ah, então é esta a sensação de estar bem comigo própria' e de o querer sentir mais vezes. O que não tem sido tarefa fácil. Por isso, aquele primeiro postal que escrevi a messagem era curta e grossa: "Quando te sentires derrotada, lembra-te que subiste todo o Bom Jesus de Braga!" Lembra-te de como te sentiste bem. Lembra-te de como não desististe.