terça-feira, 16 de outubro de 2018

MARCADOR | Angelfall

O universo de Penryn é em tudo igual ao nosso e, ao mesmo tempo, totalmente diferente. Depois dos anjos do Apocalipse terem atacado a humanidade, o mundo não é mais o mesmo. De dia, as cidades que há semanas borbulhavam com vida e barulho são ruínas controladas por gangues de humanos que tomaram conta de supermercados, casas e escritórios que, no calor do momento e do desespero, foram abandonados. De noite, não há vivalma que se atreva a sair do seu refúgio. E por isso, torna-se o momento ideal para planear uma fuga.

Penryn Young é uma adolescente de dezassete anos que viu a sua vida mudar drasticamente. Os tempos em que as suas grandes preocupações eram sair com os amigos e ter boas notas na escola são substuídos pela necessidade de cuidar, alimentar e proteger a mãe e a sua irmã mais nova, Paige. A mãe é esquizofrénica e Paige está presa a uma cadeira de rodas. A história começa numa noite em que as três tentam fugir da casa onde estão, mas são surpreendidas por um grupo de anjos irrompe a lutar não contra humanos, mas entre eles. Numa tentativa de usar essa luta em benefício próprio, para encobrir a fuga da mãe e da irmã, Penryn ajuda uma das criaturas e consegue afastar outras tantas. Mas no meio da confusão a mãe fuge e a irmã é raptada por um dos anjos. Sem saber para onde levaram Paige, mas desesperada para a salvar, Penryn forma uma parceria temporária com a criatura que salvou -- um anjo cujas asas foram arrancadas.

O livro Angelfall é o primeiro da trilogia Penryn & the End of days da autoria de Susan Ee. Quando o comecei a ler, estava mais curiosa em saber como é que a autora iria abordar a questão em redor dos anjos, mas o que me surpreendeu foram as cenas de acção e o modo como o amor é tratado. Não falo apenas do amor romântico, até porque a sua presença neste primeiro volume é miníma, mas do amor fraternal e familiar.

Sempre tive alguns problemas com cenas de acção em livros. Às vezes, alongam-se por páginas a fio, cansando o leitor e não contribuindo em nada para o desenvolvimento da história. Outras vezes, são tão curtas que nem dá para lhes sentir o sabor ou ficar empolgado. Mas aquilo em que mais reparo, e talvez esteja a exigir demais dos autores, são as descrições desapropriadas das cenas. Algumas têm o condão de tornar momentos sérios em momentos cómicos. O que não acontece em Angelfall. A acção ocupa um lugar central na narrativa, não fosse esta passar-se num mundo pós-apocalíptico onde a humanidade tem de lutar pela sobrevivência, mas tem um equilíbrio que torna a leitura prazerosa.

Apesar da diferença de idades, Penryn e Paige partilham uma relação muito forte, uma vez que a mãe de ambas é indicada como culpada pela perda de mobilidade da filha mais nova e também pela sua condição psiquiátrica. Penryn está disposta a tudo pela irmã, até aliar-se com o inimigo. O desejo de Penryn para resgatar a irmã mais nova é o mote que, como uma máquina bem oleada, dá início a toda a narrativa. Ao mesmo tempo, apesar da relação problemática que Penryn tem com a mãe, aquela não deixa de a querer entender, de a querer ajudar e, claro, de a querer proteger. Mesmo que signifique não ir à procura da mãe quando esta foge.

Como primeiro livro de uma trilogia, o enredo e o modo de contar a história é cativante. Para mim, que cresci a ler livros narrados pela perspectiva da terceira pessoa, é um pouco estranho estar a ler na primeira. Mas só por ser estranho, não quer dizer que não esteja a gostar. E, por isso, é com algum nervosismo que espero pelos dois outros livros!


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