sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

LAUREAR A PEVIDE | Museu dos Coches

Ao longo destes vinte e dois anos de vida, só fui ao Museu Nacional dos Coches por duas vezes. Embora não tenha certeza acerca da primeira, lembro-me da segunda como se fosse ontem. Porque foi ontem. Foi precisamente no dia em que tive tempo para respirar que ele me disse para irmos ao Muse dos Coches em Belém. E lá fomos.

Para os mais distraídos, o museu está dividido entre dois edíficios: o Picadeiro Real (onde o muse funcionou entre 1905 e 2015) e o Novo Museu dos Coches (que foi alvo de algumas críticas por não ser um espaço adequado para a exposição das viaturas). Eu era uma dessas pessoas que, apesar de não ter visitado o novo edíficio, não achava que fosse algo de especial. Aliás, até ontem à tarde, eu estava plenamente convencida que tinha sido uma má ideia transferir o museu do Picadeiro para aquele edíficio sem graça. Embora toda a estrutura ainda me faça lembrar um armazém, onde foram depositadas viaturas, a verdade é que a neutralidade do espaço realça-as ainda mais (não gosto de admitir, mas ele tinha razão - aquele espaço neutro em que as viaturas estão inseridas tornam-nas ainda mais fantásticas de serem contempladas, enaltecendo cada detalhe).

Quando entramos somos saudados pela viatura mais antiga e que foi usada por D. Filipe II (III de Portugal) na sua primeira visita oficial a Portugal, em 1619. É uma das carruagens mais simples que estão em exposição (se não contarmos com as viaturas de passeio do século XIX), mas ainda assim é algo de incrível. Vamos subindo de tom ao longo da exposição, onde também estão, por exemplo, fivelas, selas, varais, e outras peças necessárias à manutenção e funcionamento de uma viatura.

Carruagem de D. Filipe II (III de Espanha) | Não utilizar sem autorização prévia.

Embora soubesse o que ia ver, nunca pensei que me fosse surpreender tanto. Por algum motivo, sempre achei que tanto as carruagens como os coches eram pequenos; trabalhos até ao mais ínfimo pormenor, é certo, mas pequenos. Pois bem, qual a minha surpresa quando lá chego e vejo que a roda traseira é do meu tamanho (só para terem noção, eu meço 1,70m). Enquanto para uns pode não ser motivo de espanto, para mim foi. E ao mesmo tempo que me espantou só me fez querer continuar ali. Se pudesse ficava ali todo o dia; e se pudesse, quando ninguém estivesse a olhar, esgueirar-me-ia para dentro de todas as viaturas que se atravessassem à minha frente.

No entanto, havia uma viatura em particular que eu queria conhecer: o Coche dos Oceanos. Ora aquela viatura foi uma das dez utilizadas numa embaixada ao Papa, em 1716, sendo financiada pelo ouro do Brasil. Fiquei com um lágrima no canto do olho quando me apercebi que estava parada a olhar para o coche. É absolutamente magnífico (Get it? Porque o rei que o mandou construir era um rei absoluto e o seu cognome era D. João V, o Magnífico.)! A traseira do coche é soberba, representando a união dos oceanos Atlântico e Índico através da ação dos Portugueses.

Coche dos Oceanos | Não utilizar sem autorização prévia.
Mas para além do Coche dos Oceanos, houve outro coche que me roubou o coração: a Coroação de Lisboa. Esta viatura também fez parte da embaixada enviada a Roma, em 1716, e conta com a representação da capital lisboeta a ser coroada pela Fama (que segura a coroa) e pela Abundância (que está do outro lado de Lisboa, que está sentada). Aos pés de Lisboa está um dragão que é o símbolo da Casa Real de Bragança, um negro a representar o continente africano e um asiático que, lá está, representa toda a Ásia. A par destes dois coches, há ainda o Coche do Embaixador.

Coroação de Lisboa | Não utilizar sem autorização prévia.
No ínicio da publicação disse-vos que a neutralidade do espaço ajudou a realçar os detalhes das viaturas expostas. Mas não só. Se o Picadeiro Real pecava por não ter espaço suficiente tanto para os visitantes como para as viaturas, o novo edíficio dá-nos todo o espaço que queremos e precisamos. Além demais, a iluminação não deixa que nenhum pormenor fique por se ver. Foi uma experiência incrível e dei por mim a pensar que os meus irmãos, que não apreciam este género de coisas e ficam logo chateados quando eu começo a falar sobre História, adorariam lá ir. É impossível ficar indiferente. A quem estiver a ler estas palavras: vão e desfrutem.

1 comentário:

  1. Nunca conheci o museu dos coches, mas, na realidade, tenho muita curiosidade para ver os detalhes de cada um deles (:

    ResponderEliminar