segunda-feira, 3 de agosto de 2015

LAUREAR A PEVIDE | Mercado Medieval de Óbidos

Fotografia da minha autoria (instagram @margaridapovoa).
Não utilizar sem autorização prévia.
Quando se erguerão as seteiras,
Outra vez, do castel em ruína,
E haverá gritos e bandeiras,
Na fria aragem matutina?

Se ouvirá tocar a rebate,
Sobre a planície abandonada!
E sairemos ao combate
De cota e elmo e a longa espada?

Quando iremos, tristes e sérios,
Nas prolixas e vãs contendas,
Soltando juras, impropérios, 
Pelas divisas e legendas?

E voltaremos, os antigos
E puríssimos lidadores,
(Quantos trabalhos e perigos!)
Quasi mortos e vencedores?

E quando, ó Doce Infanta Real,
Nos sorrirás do belveder?
- Magra figura de vitral,
Por quem nos fomos combater...

- Camilo Pessanha, Castelo de Óbidos

Da estação de comboio já se avistam as muralhas da vila de Óbidos, ao longe de começa a ouvir a música animada e de quanto mais andamos mais frequentemente encontramos raparigas com vestidos simples e com as cabeças enfeitadas com modestas coroas de flores e archeiros que preparam as suas armas. A cada passo algo de novo e ao mesmo tempo de medievo passa por nós; é como pisar uma outra dimensão, um outro universo, um outro tempo. Deparamo-nos com uma mistura de gente, portuguesa, francesa, inglesa e muitos outros, provavelmente. A festa está prestes a começar.

Entre 16 de Julho e 2 de Agosto, deu-se o tão conhecido Mercado Medieval de Óbidos. Talvez não seja o evento mais famoso da região, sendo que esta também alberga o Festival do Chocolate e a Vila Natal, mas não deixa de ser um momento que atrai muita gente de toda a zona Oeste e não só. Morando eu, há quase vinte e um anos, nesta belíssima região sinto-me triste por não a conhecer tão bem quanto gostaria. No entanto, lentamente, as coisas começam a mudar e não é que este foi o ano em que lá fui, ao Mercado Medieval?

Fotografia da minha autoria (instagram @margaridapovoa). 
Não utilizar sem autorização prévia.
Chegámos lá mesmo a tempo de ainda ver a abertura das bancas e das tabernas. Como aquilo apenas abriu ao público ao meio-dia, fomos brindados com os cheirinhos bons vindos das brasas; o almoço já estava aí a bater à porta. Ainda antes disso, fomos dar uma volta pelo circuito para ver o que podíamos fazer depois de almoço. O recinto é pequeno, mas é adorável (será que posso utilizar este adjectivo numa descrição de um mercado medieval?).

Depois de algumas voltas, chegámos à conclusão que mais do que um mercado medieval aquilo tratava-se de um autêntico festival gastronómico. Havia comida para onde quer que se olhasse, desde bolos deliciosos e com um aspecto que trariam lágrimas a qualquer um a carne assada das mais variadas espécies. Já para não falar dos refrescos, chás e outros petiscos deliciosos, que infelizmente não tive a oportunidade de provar, como amêndoa envolta em flor de laranjeira.

Decidimo-nos, então, ficar pela taberna dos Bombeiros Voluntários de Óbidos que tinha boa comida, sombra e preços também eles bons. Os preços em geral foram o que mais me marcou, porque quando fui à Vila Natal com a minha família, o ano passado, fiquei com a impressão que tinha de pagar por cada passo dado. Apesar de ter de pagar o que consumia, sendo que a doçaria era um pouco mais cara, de forma geral, era tudo bastante acessível. Fiquei histérica, porque não tinha de contar moedas.

Fotografia da minha autoria. 
Não utilizar sem autorização prévia.
O almoço passou e a tarde instalou-se; digo-vos, a minha vontade era de me deitar num sítio com sombra e ficar lá a dormir a sesta. Mas o mercado tinha outras actividades para oferecer. Por volta da hora de almoço, deu-se o torneio de tiro com arco; esta competição está na agenda da Federação da modalidade e tem-se vindo a repetir desde há quatro anos. Seguimos então para a liça, onde irão decorrer um torneio e depois um treino de armas da Guarda do Alcaide-Mor de Óbidos.

Neste momento, não sou eu quem tira fotografias. Ao invés disso, decidi gravar tanto o torneio como o treino de armas. Foi a primeira vez que vi algo do género, sem ser em filmes, e posso dizer que adorei! Os cavalos, os cavaleiros, os escudeiros e o mestre da liça, tudo foi fantástico e por mim teria lá ficado a ver.

Fotografia da minha autoria. 
Não utilizar sem autorização prévia.
Mas o que é bom acaba depressa e chegou a hora de voltar a casa. No entanto, no nosso caminho de regresso a casa fomos ainda contemplados por um cortejo onde se incluiam os músicos, a tocarem os seus tambores, flautas e gaitas-de-foles, as damas e nobres, os criados que ofereciam alguma coisa que comer a quem passasse por eles, os bárbaros, verdadeiros guerreiros vindos de outras terras além-Portugal, cavaleiros, archeiros, porta-estandarte, dançarinas, artistas, bobos, figuras mágicas, que povoam o imaginário medieval e as florestas, e o leproso. A caracterização estava boa e tinha ainda um cajado com um sininho, que era utilizado para avisar a população que o leproso estava a chegar para que se pudessem esconder da doença.

No final do dia, podia dizer: cansada, mas contente. Adorei tudo, o ambiente que se vivia no mercado, as actividades, o bom-humor das pessoas que fizeram do mercado o mercado e, claro, a boa comida que por lá se encontrava. Só não me prolonguei pelas bebidas porque o meu par parecia o diabo a fugir da cruz. 

A promessa de lá voltar está de pé. Mas para o ano vamos trajados à época!

Fotografia da minha autoria. 
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